domingo, 23 de março de 2014

Cosmovisão Bíblica e Transformação Integral

Cosmovisão Bíblica e Transformação Integral foi o tema que continuamos abordando. O tema é apresentado pelo Maurício Cunha (Foto ao lado).
Vivemos uma época onde é bom aquilo que dá dinheiro. Essa é uma marca do secularismo. Essa cosmovisão está também muito presente na igreja. Por exemplo, a teologia da prosperidade. Essa idéia permeia tudo: desde as artes até a realização no trabalho.
A igreja deve afirmar a dignidade humana: tanto do homem quanto da mulher. Outra coisa quebrada pela cosmovisão cristã é a síndrome de fatalismo (Gabriela). A cosmovisão cristã entende que o homem é cooperador na criação. Recebemos um mandato cultural de Deus.
O melhor profissional é aquele que cumpriu melhor o mandato cultural de exercer domínio (Gn 1. 26). Os cristãos deveriam ser aqueles que melhor estão exercendo o mandato cultural. Infelizmente, essa não é a realidade. Não tem como trabalhar desenvolvimento comunitário sem entender o mandato cultural. Deus não é só redentor, Ele é também Criador.
Deus chama o homem para participar do processo (Gn 2. 19). Ele confere ao ser humano autoridade sobre a Sua criação. Porém, o homem precisa compreender isso, que ele é co-gestor com Deus. O ser humano é co-cooperador com Deus: “e o nome que o homem desse acada ser vivo, esse seria o seu nome”. Cabe a nós a iniciativa, a participação, a responsabilidade para com a Criação. Como nós temos desempenhado o mandato cultural para nó?
Obediência é ouvir com atenção. Deus não nos fez robozinhos. Não são os astros ou os espíritos que determinam as coisas. Deus deu autoridade sobre o planeta Terra ao homem. O demônio entra quando o homem permite. A história não é algo que acontece a mim. A história é algo que eu construo... que eu posso fazer acontecer.
A história caminha para algum lugar avançando em direção ao Reino de Deus. No secularismo se crê que a vida é essa aqui e que após a morte acabou. No animismo a crença é de que a história é cíclica (reencarnação).
Você faz a história! Jr 5. 1: Deus procura homens e mulheres para mudar a história das cidades. E, Deus usa para isso os ‘pequeninos’ (Ec 9. 14 – 16). Eu sou um agente de transformação. Deus pode me usar.
A mente controla a matéria (Hb 11. 3). Aquilo que estava na mente de Deus formou o mundo visível e material. O invisível determina o visível. A nossa cosmovisão vai determinar as comunidades onde vivemos. Se eu quero mudar a realidade é preciso ir além da sopa e mudar a crença (a mente, a cosmovisão).
Como eu posso conhecer a vontade de Deus?
· Discernimento
· Testemunho do Espírito Santo
· Palavra
· Conselhos piedosos (pessoas sábias)
· Paz de Cristo
· Dons e talentos naturais
Idéias têm conseqüências. Construímos nossas sociedades baseadas nos deuses que cultuamos. As sociedades refletem o caráter do seu deus.
A diferença entre fatalismo e fé. A fé cristã nasce da inconformidade (Rm 12. 2). Metanóia = Mudança de men
AVAD = trabalho – adoração. Trabalho construtivo, criativo... (trabalho para a glória a Deus).
Após o pecado – EVED = Castigo – Tortura.
Ética cristã do trabalho – John Wesley: “Trabalhar o máximo que puder, economize o máximo que puder, dê o máximo que puder!” I Co 10. 31. Não haverá uma transformação na comunidade sem uma ética cristã do trabalho.
Se a igreja falhar em discipular a nação, a nação discípula a igreja.
A Ética do Desenvolvimento. Desenvolvimento por discipulado. Qual é o impacto da cosmovisão no desenvolvimento?
Por que vocês querem fazer um trabalho de desenvolvimento comunitário? A minha prática ministerial revela uma crença.
Idéias têm conseqüências. As idéias viajam por todo o globo terrestre, de uma área a outra. As idéias também passam para futuras gerações. Idéias se difundem para dentro das culturas através de classes de pessoas.
Deveria ser e é assim com o Evangelho. Mas, existe hoje muita igreja, muitas almas salvas e pouco reino. Não basta um crescimento horizontal da igreja. A igreja brasileira precisa penetrar mais verticularmente na cultura do país.
Todo avivamento na história gerou uma Universidade. Todo avivamento gera transformação social. O Evangelho mexe com todas as estruturas da sociedade.

O que a Bíblia Diz Sobre Meio Ambiente

Ao abrirmos a Bíblia, o primeiro versículo diz que “no princípio Deus criou os céus e a terra”. Os dois primeiros capítulos do Gênesis são dedicados a relatar como Deus foi criando todas as coisas. Ao final do trabalho o Criador para e avalia: “E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom” (Genesis 1. 31). O relato da história do povo de Israel demonstra a forte relação do povo com a terra. Diversos relatos bíblicos mostram também que Deus em suas intervenções tem poder sobre toda a natureza. Hoje em dia é comum ouvirmos pessoas reconhecendo a grandeza e criatividade do Deus Criador ao observarem as paisagens exuberantes espalhadas pelo planeta Terra: “Eu sabia bem o que era uma praia, ou assim pensava. Mas, quando chegamos ao cume do morro de onde se descortinavam o mar e a praia, fiquei simplesmente boquiaberto e calado; lentamente desci até as ondas. Palavras não conseguem exprimir a visão com que me deparei. Vi espaço, luz, textura, cor e poder... que mal pareciam ser desta terra” (Dallas Willard no livro A Conspiração Divina).

O ser humano é privilegiado com a confiança e responsabilidade que recebe de Deus: “O SENHOR Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo” (Genesis 2. 15). No Novo Testamento Bíblico encontramos Jesus ensinando várias vezes através de parábolas. Muitas dessas parábolas retratam a relação do ser humano com a criação: plantas, animais, sementes, terra, colheita, etc. Interessante notar que essas relações são de respeito, cuidado e cultivo. Jesus considerou insensatez o grande acúmulo de bens (Lucas 12. 16-21) e foi responsável se posicionando contra o desperdício (João 6. 12). A ganância e a cobiça no coração humano estão gerando consequências graves para a boa criação de Deus: desmatamento, o crescente aquecimento do planeta, poluição do ar, produção de lixo, paisagens sendo desfiguradas, fome e doenças...

A redenção que Jesus veio trazer à humanidade resgata também a nossa responsabilidade para com a Criação de Deus. Nas palavras do Apóstolo Paulo Deus enviou Seu Filho para que “por meio dele (Jesus) reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão nos céus” (Colossenses 1. 20). Assim, “a natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados” (Romanos 8.19). Somos chamados a assumir o nosso compromisso e responsabilidade de cuidar e cultivar. Que possamos cada um cumprir a sua parte. E quando o reino de Deus for finalmente pleno “a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra, recebendo a gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Romanos 8.21).

Cosmovisão


Hoje continuamos no assunto das cosmovisões. Existem inúmeras cosmovisões (maneiras de ver e compreender o mundo). Mas, por questões didáticas, Enfocaremos as 3 grandes cosmovisões predominantes no mundo: Secularismo, Animismo, Teísmo Judaico-cristão. Diante disso, é preciso compreender melhor o que se entende também sobre batalha espiritual. A verdadeira batalha espiritual é aquela que acontece pelas mentes e corações dos povos. É uma batalha de cosmovisões.
Na visão teísta judaico-cristão Deus é o criador. Nos últimos séculos ‘criação’ foi substituído por ‘natureza’. Para o cristianismo Deus é transcendente e imanente. Ele é separado, superior à criação, mas, também se encarna, se manifesta na história.
No deísmo crê-se que Deus até criou todas as coisas, mas deixou a criação a mercê da própria sorte. O que vale mesmo são as leis naturais. O deísmo favorece assim, o surgimento do humanismo secular onde Deus já não é reconhecido sequer como criador. Só existe a matéria. Não existe na cosmovisão secularista o sobrenatural. Resultado: mundo de consumo, hedonismo, o homem como referência.
O Manifesto Humanista é a bíblia do Humanismo secular: ‘nenhuma divindade nos salvará, devemos salvar a nós mesmos’. O homem passa a ser a medida de todas as coisas. Logo, é uma fé religiosa idólatra. O homem é o centro. No Teísmo Deus é o centro.
No humanismo secular é o homem que define o que é ético. O que vale é o que me faz bem. Não existe um princípio transcendente.
Na área da biologia, o humanismo secular compreende que o homem e a natureza não foram planejados .
Na psicologia o que vale é a auto-realização. O homem não é mau em si mesmo, não há pecado. As estruturas é que são más. A sociedade é que corrompe. Da idéia de que é preciso mudar a estruturas da sociedade nasce o comunismo. Mas, será que o homem é capaz de trabalhar pelo bem da sociedade?
O teismo vai dizer que não é a sociedade que precisa ser mudado, mas o homem. O pecado é inerente ao ser humano. Já o humanismo secular tem colocado o homem no lugar onde ele não deveria estar e, com isso, acaba denegrindo o homem.
O cristianismo acredita que a culpa humana é real e não somente psicológica. Não é algo como que eu me sinto assim, eu preciso é ser curado. Não precisamos de Cristo por que eu me sinto mal, eu realmente sou mal e preciso do seu perdão.
Globalismo. Na política o humanismo vai trabalhar na perspectiva de governos globais. Paraíso na terra construído pelos próprios seres humanos. Amoralidade é uma das marcas. Põe-se contra a autoridade da religião. Propõe assim o liberalismo, principalmente na área sexual. Evolucionismo e autonomia humana são outras marcas do humanismo. Não há julgamentos após a morte.
O humanismo secular domina o ocidente: mídia, universidade, governo...
I Cr 12. 32. Filhos de Issacar: conhecedores da sua época.
Quem são os ‘filhos de Issacar’ em nosso tempo?
O outro extremo do humanismo secularista é o animismo.
Tudo é espiritual. No animismo a vida são forças espirituais que engendram as realidades. Tudo tem uma causa sobrenatural. O cristianismo sofre dessa influencia quando diz que tudo é culpa do diabo.
No secularismo o problema da pobreza é material. O animismo ‘resolve’ o problema expulsando o espírito de miséria.
No Animismo a realidade fundamental é espiritual. No Secularismo a realidade fundamental é material. No Teísmo Bíblico a realidade fundamental é pessoal.
O desafio é o equilíbrio. Integralidade. Qual área da minha vida está precisando de restauração? A vida é um todo. O homem e a natureza precisam ser colocados no seu devido lugar. Quem está no centro é Deus na compreensão teísta.
Onde tem ser humano já existe um potencial de transformação. As comunidades locais possuem todos os recursos necessários para a transformação.
Onde você encontra sentido? Como você explica a vida? A resposta que você dá a essas perguntas revela a cosmovião que molda o seu mundo. O cristianismo sempre abre espaço para a transformação.
O cristão pode olhar a realidade e dizer: ‘Deus não quer assim, então pode ser transformado’.
Para que haja transformação é preciso transformar a mente e o coração. Começa pelo ser humano. O perigo é simplesmente concluir que a realidade de pobreza está dentro da pessoa e, por isso, a responsabilidade é deles. Não basta que o pobre adquira a cosmovisão cristã. Existem problemas estruturais, carência de recursos, etc.

Cosmovisão Cristã





















Este é o livro Cosmovisão Cristã e Transformação: Espiritualidade, razão e ordem social. Uma leitura indicada a todos que desejam compreender melhor nosso tempo, as características dos fenômenos religiosos e os desafios do cristão que deseja ser relevante em sua comunidade e sociedade em geral.

Cosmovisão Cristã e Transformação Integral

Tema: Cosmovisão Bíblica e Transformação Social. O assunto gera certa polêmica. exemplos e argumentos... O assunto é sem dúvida instigante e desafiador.
O ser humano está sempre interpretando a vida. Estamos sempre procurando uma resposta.
O cristianismo é verdade por que eu creio ou eu creio por que é verdade? Mesmo que ninguém no mundo creia, o cristianismo continuará sendo a verdade.
As questões mais fundamentais da vida são questões de fé. Elas vêm do nosso sistema de crenças. A cosmovisão de cada um responde a 3 perguntas relacionadas ao ser humano: ao ser (o que é a realidade? O que é o homem? A história caminha para algum lugar? O trabalho é importante? Como eu posso conceber a natureza e o tempo? Quais são os determinantes da saúde e da doença?); questões morais (o que é certo? O que é errado? De onde vem o mal?); epistemológicas/relacionados ao conhecimento (o que eu posso saber e conhecer? Como eu posso conhecer?).
O cristianismo se fundamenta numa verdade absoluta. O mundo fundamenta a vida numa fé baseada numa maneira própria de explicar a vida.
A fé cristã não é um salto no escuro. A fé cristã se fundamenta em evidências. A fé cristã ‘bate’ com a realidade.
A Bíblia é uma cosmovisão. É uma maneira de ver e entender o mundo. Ela explica a vida. Ela fornece fundamentos essenciais para um processo de estabelecer os alicerces de uma nação.
O trabalho de desenvolvimento comunitário é mais do que dar sopa. Transformação começa com mudança de paradigmas.
A cosmovisão não opera somente no plano cognitivo, mas também nas experiências do indivíduo. Por isso, não basta uma simples palestra para mudar uma cosmovisão. È necessário lançar mão de outras tecnologias sociais. Não se pode reduzir a experiência humana somente ao cognitivo/cérebro.
È fundamental se fazer o diagnóstico correto antes de iniciar qualquer projeto de desenvolvimento comunitário.
‘Quem é o próximo do receptor da misericórdia?’ Eu serei próximo de quem? (A Parábola do Bom Samaritano – Jesus inverte a lógica da pergunta).
Para iniciar um projeto de desenvolvimento comunitário eu preciso conhecer 3 cosmovisões: a minha, a do outro e a Bíblica.

“Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz. Mas se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas. Portanto, se a luz que está dentro de você são trevas, que tremendas trevas são!” 
(Mateus 6. 22, 23)

Cosmovisão Bíblica e Transformação Integral

Cosmovisão Cristã. A Mente Controla a Matéria (Hb 11. 3).
Existe hoje uma cultura predominante no mundo. A cultura americana se evidencia no capitalismo, na língua, na cultura (filmes, música). Na época do NT a cultura dominante era a grega. O dualismo grego diz que a matéria é má e o que é etéreo é sagrado (bom). A cultura grega separa o espiritual e o físico. Com a chegada do cristianismo ouve uma fusão entre elementos do cristianismo e a cultura grega. Sofremos as conseqüências da cultura grega até hoje. Nessa dicotomia Deus se relaciona com aquilo que tem a ver com o sagrado. Deus não penetra o cotidiano chamado de secular. Essa compreensão limita o poder, a soberania e a atuação de Deus no mundo. Daí nasce o gnosticismo evangélico. Infelizmente, boa parte da igreja limitou a sua ação ao esconder-se e fugir dos grandes desafios da sociedade. Com isso ela perdeu a batalha pela cultura, pelas artes, pela transformação da sociedade. O resultado foi uma igreja preocupada apenas em povoar o céu.
Coram Deo = Diante de Deus. Uma das ênfases da reforma é que Deus governa sobre todas as áreas da vida e não apenas sobre aquilo que achamos pertencer ao plano espiritual. “Não há um só centímetro, em todos os domínios da nossa vida humana, sobre o qual Cristo, o Senhor de tudo, não clame: É Meu!!!” (Abraham Kuyper).
Missão Integral não é evangelismo mais ação social. Missão Integral não é evangelismo mais ação política. Missão Integral é redenção de todas as coisas! É a aplicação das verdades de Deus em todas as esferas da vida.

A influencia dicotômica gera uma igreja alienada. Santificação na igreja onde se almeja o céu e fora da igreja o mundo que caminha para a morte. Por outro lado, pode gerar também o ‘cristão’ totalmente comprometido com o mundo de modo que ele se torna indistinguível. Alguém que não faz diferença nenhuma.

A igreja que vive em equilíbrio deve ser uma igreja fomentadora de vocações.
Conclusão: A fé define como o ser humano vê o mundo. Toda religião fornece uma lente para interpretarmos o mundo.
Não há religião que não seja uma cosmologia ao mesmo tempo que uma especulação sobre o Divino. Se a filosofia e as ciências nasceram da religião, é que a própria religião começou por fazer as vezes de ciência e de filosofia. Mas o que foi menos notado é que ela não se limitou a enriquecer com um certo número de idéias um espírito humano previamente formado; também contribui para formar esse espírito ... Os homens devem a ela ... A forma segundo qual os conhecimentos são elaborados”. (Émile Durkheim - “As formas elementares da vida religiosa” Martins Fontes – XV).
Toda a religião fornece uma lente para interpretarmos o mundo.
O Cristianismo histórico: Interpretação TOTAL da realidade a partir da revelação de Deus.
1. Escrituras: Oferecem um escopo integral não dualista para a formação de uma cosmovisão cristã.
2. Cosmovisão Cristã: Visão total do mundo e da vida, tanto descritiva quanto prescritivamente, a partir dos princípios revelados por Deus nas Escrituras.

Desafio para a igreja brasileira: Pensar o cristianismo como sistema interpretativo de toda a realidade e como aplicar a cosmovisão cristã em todas as áreas da sociedade brasileira.

O que a Bíblia Diz Sobre Honestidade

Já desde os tempos mais antigos a questão da honestidade é vista como uma virtude a ser valorizada e buscada. É uma questão presente já nos Mandamentos que Deus entrega a Moisés no Monte Sinai: “Não adulterarás. Não furtarás. Não darás falso testemunho contra o teu próximo” (Êxodo 20. 14-16). Embora a palavra honestidade não apareça tantas vezes na Bíblia, o princípio está presente por toda ela. O valor da justiça e da verdade permeia as Sagradas Escrituras de capa a capa. É conhecido o texto que relata o conselho de Jetro ao seu genro Moisés. O trabalho se multiplicava e Moisés não estava mais dando conta de julgar todas as questões. Ao observar como Moisés ocupava todo o seu dia escutando as necessidades e problemas do povo, Jetro oferece a seguinte orientação: “escolha dentre todo o povo homens capazes, tementes a Deus, dignos de confiança e inimigos de ganho desonesto. Estabeleça-os como chefes de mil, de cem, de cinqüenta e de dez” (Êxodo 18. 21). Um conselho com princípios que certamente são levados em consideração ainda hoje. Afinal, “feliz é o homem que com honestidade conduz os seus negócios” (Salmo 112.5).
Há quem argumente que a ocasião faz o ladrão. Outros dizem que a falta de oportunidades acaba gerando a corrupção e todo tipo de ilicitudes. A desigualdade social geraria a criminalidade e todo tipo de desonestidades. Mas, será mesmo que a honestidade depende do quanto de dinheiro uma pessoa possui? Acho que a resposta é óbvia! Vejamos as palavras de Jesus: “Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, e quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito. Assim, se vocês não forem dignos de confiança em lidar com as riquezas deste mundo ímpio, quem lhes confiará as verdadeiras riquezas?” (Lucas 16. 10-11). Logo, a pobreza material não justifica sozinha a desonestidade de alguém. Toda criminalidade e corrupção resultam de um processo de injustiça mais complexo em que a má distribuição de renda é apenas um item a colaborar. E, mesmo assim, ainda existem aqueles que encontram força moral para agir diferente.
Também ou, principalmente, entre as lideranças das igrejas deveriam zelar pela honestidade. Na sua carta Tito enumera vários atributos de um líder cristão. Entre outras coisas ele diz que “por ser encarregado da obra de Deus, é necessário que o bispo seja irrepreensível: não orgulhoso, não briguento, não apegado ao vinho, não violento, nem ávido por lucro desonesto” (Tito 1. 7). Logo, a recomendação que deixamos a todos e, principalmente a muitos líderes religiosos, é que leiam mais a Bíblia. Deixemo-nos todos ser confrontados pela verdade libertadora dos Evangelhos!

"Se cada um cuidasse da sua própria vida o mundo seria melhor"

Especialistas sobre a realidade contemporânea concordam que uma marca do nosso tempo é o individualismo: "Cada um por si..."; "a vida é minha e eu faço o que eu quiser"; "Se cada um cuidasse da sua própria vida o mundo seria melhor"... Será? Talvez seja exatamente esse o problema: cada um está preocupado, demais e somente, com a sua própria vida! Muito entretenimento produzido para que as pessoas possam permanecer horas isoladas sem precisar encontrar outras pessoas. Até mesmo as mensagens cristãs denunciam esse individualismo: apelos pessoais, conversão pessoal, salvação pessoal, promessas aos indivíduos, um Deus pessoal. Não temos mais um Deus, mas, cada um tem o seu deus. Por isso, posso orar para que o meu time vença, posso pedir a Deus que me ajude a ganhar na loteria, posso exigir dele prosperidade financeira sem que isso seja fruto do meu trabalho, posso até, pedir que ele destrua os meus inimigos. Afinal, o que importa é ser feliz, que Eu seja feliz, nem que às custas dos outros! Quando me deparo com um obstáculo que seja maior que eu mesmo, logo desisto. Sequer cogito a possibilidade de que se me aliasse a mais um, dois, dez, ou mesmo milhares ou milhões, os desafios que muitas vezes parecem impossíveis, tornar-se-iam insignificantes.
A mensagem de Efésios, escrita pelo apóstolo Paulo "aos santos e fiéis em Cristo Jesus que estão em Éfeso"(1.1), não é uma carta geral para os habitantes de uma região ou cidade, mas, aos santos e fiéis em Cristo Jesus que estão em Éfeso. E, ao referir-se à igreja em Éfeso, Paulo também não está falando a uma elite espiritual, ou apenas a um tipo de clero ou presbitério daquela comunidade. A carta é, portando dirigida a toda congregação, uma comunidade de fé. Não posso, portanto, partir do pressuposto que essa mensagem seja compreendida por todo mundo. No capítulo quatro, o texto fala de unidade. A Igreja é corpo. Essa unidade não se dá por decreto ou convenções, mas, é possível naquele que deu sua vida por amor ao mundo e envia seu Espírito. Sabemos, agora, o que somos. Já sabemos o que recebemos de Cristo. Conhecemos os propósitos que Deus tem para com a vida. Então vivamos a altura disso. Paremos de viver como escravos na casa do Pai.
Unidade e comunidade não significam igualdade. A igreja ou uma comunidade não se dão num sistema igualitário. Deus é criador e não alguém que fabrica em série. Homens são diferentes de mulheres, um homem é diferente de outro homem e uma mulher é diferente de outra mulher. E, na igreja, não pagamos por uma prestação de serviços. Na verdade, pagamos para servir. Pagamos em dinheiro, bens, tempo e talentos. Se alguém ainda não compreendeu que não tem mais nada para receber em troca, então está fazendo religião. Ainda não entendeu o Evangelho, ou, entendeu, mas decidiu que isso é perigoso demais para os seu planos. Quais os desafios que esse texto apresenta para nós que somos individualistas vivendo numa sociedade individualista?

O Que a Bíblia Diz Sobre o Perdão

O perdão é central na fé cristã. Falar sobre o perdão é falar da cruz. Somente o perdão liberta da culpa e possibilita a reconciliação. Sem perdão não há paz. O perdão quebra algumas lógicas. Perdoar é um gesto, uma decisão alicerçada no amor. Perdoar é agir por graça. E a graça é algo que não compreendemos muito bem. A graça quebra a lei da causa e efeito. Por isso, nas palavras de Bono Vox, “se eu viver por meio do ‘Karma’ estou com grandes problemas”. A história da graça é a história de Cristo. O perdão é o amor em ação. A liberdade para deixar o amor agir sem que o outro tenha feito por merecer é graça. Essa liberdade só pode experimentar quem se reconhece amado e perdoado graciosamente. O perdão quebra as correntes. É o gesto que subverte a lei da causa e efeito. “Perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou” (Colossenses 3. 13).
Além de falar a respeito do perdão a Bíblia também apresenta vários exemplos concretos de pessoas que perdoaram e foram perdoadas. Genesis 33 relata o reencontro entre Esaú e Jacó. Mais adiante, o capítulo 45 relata o emocionante momento quando José se revela aos seus irmãos que anos antes o tinham vendido como escravo. A emoção escancarada de José e suas palavras revelam que nenhuma mágoa ou ressentimento existe em seu coração. Nos Evangelhos vemos que mesmo sabendo da traição de Judas, Jesus o continua chamando de amigo (Mateus 26. 50). Outro traidor foi Pedro que negou Jesus três vezes. E, após sua ressurreição foi a Pedro que Jesus disse: “Cuide das minhas ovelhas” (João 21. 17). A experiência de ser amado e perdoado libertou Pedro para cumprir o seu chamado apostólico.
No famoso sermão da montanha encontramos Jesus ensinando: “eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem” (Mateus 5.44). Na cruz Jesus mostrou o que isso significa. Toda humanidade rebelde e inimiga de Deus estava sendo redimida, absolvida, perdoada. Entre sangue, suor e dor lancinante, o Mestre enxerga curiosos e algozes zombadores a rodear o madeiro. Lá de cima, palavras que expressam o improvável: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo” (Lucas 23. 34). Um dos dois bandidos que foram crucificados com Jesus compreendia bem a lei do carma: “Nós estamos sendo punidos com justiça, porque estamos recebendo o que os nossos atos merecem”. As palavras seguintes que ele ouviu de Jesus revelam o amor, o perdão, a graça que vira essa visão de cabeça para baixo: “Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso” (Lucas 23). Assim Ele me ensina a orar: “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores” (Mateus 6. 9-13).

Usurpadores...

As cartas do Novo Testamento bíblico apresentam também características apologéticas. Desde o seu início a igreja se viu ameaçada por doutrinas estranhas como o gnosticismo, líderes que procuravam se sobrepor a autoridade dos apóstolos, entusiastas que julgavam ter descoberto um estágio mais evoluído de cristianismo. Diante disso, os apóstolos sempre de novo precisaram se posicionar e reafirmar a essência daquilo que haviam recebido de Cristo. A maioria das igrejas que iam nascendo por toda a região da Ásia não surgiram diretamente a partir dos apóstolos, mas de cristãos comuns que se espalhavam pelas diversas cidades e vilarejos testemunhando o Evangelho. Logo, era um desafio manter a unidade e a pureza do Evangelho. O apóstolo João reflete isso em sua terceira carta.
Entre os versos 9-11 João menciona Diótrefes. Nas palavras do autor, trata-se de alguém "que gosta de exercer a primazia" ou, que gosta de ser o mais importante. E, assim, é um difamador, um caluniador, um fofoqueiro. João diz que quando estiver com Diótrefes chamará "a atenção dele para o que está fazendo com suas palavras maldosas". E, mais, Diótrefes "se recusa a receber os irmãos, impede os que desejam recebê-los e os expulsa da igreja". Deduzimos que Diótrefes era uma espécie de líder que queria controlar sozinho a igreja local. Alguém que não aceitava a autoridade apostólica de João. Rejeitava qualquer orientação, recusava-se a receber os evangelistas itinerantes. Chegava a mostrar certa hostilidade aos representantes da igreja. Recusar-se a aceitar evangelistas itinerantes, por um lado, pode ser uma medida prudente, pois na época já haviam aqueles que abusavam da hospitalidade e promoviam suas próprias idéias. Mas, Diótrefes agia com radicalismos, sem critérios. Por medo de perder a influência ou por outra insegurança, Diótrefes fechava as portas para qualquer pessoa que demonstrasse espírito de liderança.
A terceira epístola de João revela o surgimento da autoridade investida em um único homem que tenta usurpar toda a autoridade. A Igreja primitiva, em suas comunidades, eram lideradas por diversos 'pastores', ou, os chamados 'anciãos' ou 'supervisores'. Portanto, não por um único oficial. Infelizmente, com o passar do tempo, Diótrefes acabou fazendo escola e cada vez mais a coisa foi se 'profissionalizando'. João escreve num tempo em que ainda se podia chamar a atenção de líderes assim sem ser acusado de estar 'tocando no ungido do senhor'. Na igreja de Jesus, João sabia muito bem, a exortação e a repreensão são importantes, pois, o ser humano pecador se deixa encantar facilmente pela vaidade e sede de poder. Quando os dons espirituais são tolhidos, maiores as chances de alguém usurpar a autoridade criando o seu império particular.

Família

O tema da família é de grande importância para a sociedade. Embora muito tematizado, parece cada vez mais difícil se posicionar sobre este assunto. Frente aos diversos questionamentos e busca por modelos, a igreja cristã vem se debatendo de forma que, na maioria dos casos, age de forma reativa, jogando na defesa. Como cristãos, cremos que a família, como tal, é criação de Deus, é projeto original do Criador de todas as coisas.

 Falar da família, enfatizar o valor da família, defender a família não pode ser meramente um discurso reativo frente aos ataques de um mundo hostil. Antes, a família é algo que, independente das distorções - que geram desde celebração até arrepios -, está na concepção de algo que compõe a ordem da criação de Deus. Isso quer dizer que qualquer limitação causada pelo pecado não legitima as distorções da experiência humana. Tampouco a nossa limitação deveria se tornar justificativa para um comodismo frente aos desafios, dificuldades e obstáculos que se apresentam. Ainda é possível falar de um referencial quando o assunto é família?

Sem perdermos a perspectiva da graça, da misericórdia e do projeto de redenção de Deus, devemos também manter aberta as nossas mentes e nossos corações, de modo que a tolerância, no melhor sentido da palavra, permaneça como uma marca distintiva do caráter cristão. E, isso no que se refere ao fato de sermos diariamente desafiados a sermos imitadores de Cristo, tanto em nossa vida pessoal, de santidade, quanto em nossos relacionamentos com o próximo.

Existem diversos meandros e sutilezas, vários exemplos que poderíamos citar aqui e que dizem respeito a esta temática. Desde as tentativas de mudar a nomenclatura, típico da ideologia do politicamente coreto e seus eufemismos, até as investidas da mídia em tornar normal algo que, especialmente na visão deles, escandaliza os religiosos e conservadores, existem vários exemplos, relatos e questões que poderíamos discutir. Casamento e divórcio, heterossexualidade e homossexualidade, casar ou permanecer solteiro, ter ou não ter filhos, aborto, fidelidade e infidelidade, homem e mulher, sexo ou gênero, etc... são assuntos que inevitavelmente surgem dentro deste tema maior da família.

O que poderíamos fazer diante de toda confusão e crise familiar? Existe algo que a fé cristã e a tradição protestante têm a dizer sobre isto? De que modo as Escrituras e a vontade de Deus se posicionam com relação à família? De que modo nós poderíamos manter uma postura firme, em amor, de modo que sejamos tolerantes, acolhedores e misericordiosos? Ainda é possível ser um cristão, acreditar e defender a família sem compactuar com tudo aquilo que vem se querendo instituir como “legítimo” e “normal” na sociedade?


Enquanto você reflete sobre estas questões e posta seus comentários e opiniões, aguarde nosso próximo post onde continuaremos o assunto.